Pular para o conteúdo principal

A região do Sahel e sua importância histórica

 Por Derick Zheng


A região do Sahel, cujo significado literal do árabe significa “costa”, é localizada entre o vasto deserto do Saara ao norte e as savanas africanas ao sul, e compreende atualmente partes de seis países: Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger e Chade, todos ex-colônias francesas. Sua geografia é conhecida pelo clima quente e de pouca precipitação volumétrica, característicos de uma região semiárida. Por ser uma faixa de transição, a região protege as savanas dos ventos secos carregados de areia do Saara, devido à sua biodiversidade, por isso, o Sahel é de ampla importância para os países subsaarianos, pois sem esse escudo natural, certamente o resto do continente africano seria mais uma extensão do maior deserto do mundo. No entanto, a localidade está ameaçada de se perder por esse mesmo fenômeno, cujos efeitos agravam gradualmente o processo de desertificação do Sahel e põe em risco milhões de pessoas que ali vivem e dependem das colheitas.

Historicamente, o Sahel foi uma relevante rota de comércio na África e devido a isso, vários impérios africanos surgiram devido ao enorme potencial econômico da região, como o Império do Mali  no século XIII e o rico e próspero Império Songai no século XV. Essas civilizações fizeram enormes progressos na agricultura que possibilitaram alimentar as grandes populações e realizaram extrações dos recursos naturais do Sahel, como o ouro, o sal e o âmbar. A cidade de Gao, localizada atualmente no Mali, foi capital do Império Songai e era um importante ponto de passagem das caravanas de comércio. Ali se desenvolveu um grande mercado onde se negociava as mais diversas iguarias. A cidade também era um importante produtor agrícola, por estar localizado às margens do Rio Níger, e também um grande centro religioso, especialmente ao islamismo, devido ao fato dos soberanos de Songai serem todos convertidos a essa religião que ganhou influência por meio do intenso fluxo comercial. O islamismo é predominante no Sahel atualmente justamente por essa influência histórica, todavia, várias crenças religiosas pagãs coexistiam devido à diversidade étnica do império, que é um reflexo da diversidade do continente.


Extensão do Império Songai

Fonte: Black Past


Assim como Gao, várias cidades se desenvolveram de maneira próspera, como Tombuctu e Djenné. Esse fato histórico de terras ricas na África atraiu a atenção dos europeus, que desde o século XV, desbravavam terras longínquas e desconhecidas em busca de riquezas e iguarias, no período das Grandes Navegações. Os europeus, que à época estabeleciam colônias no continente da América, desenvolveram um crescente interesse de colonizar o continente africano, que até então, era visto somente com fins comerciais. 

A França iniciou a colonização do Sahel a partir do século XIX, após a perda dos territórios na América para os ingleses na Guerra dos Sete Anos. Sob a justificativa de trazer a civilização para o continente africano, os franceses enviaram expedições armadas a fim de subjugarem os territórios e explorar seus recursos naturais. A superioridade industrial dos franceses ocasionou um rápido e sangrento avanço territorial no Sahel. A implementação coerciva dos valores franceses na região, como a religião católica e a educação europeia, resultou no extermínio de vários grupos étnicos e numa perda de várias culturas. As colônias no Sahel enriqueceram a metrópole francesa, enquanto as populações locais sofriam da fome e da opressão dos seus colonos.

Após a descolonização, os países do Sahel ainda sofrem os efeitos da época. A economia da região é subdesenvolvida e predominantemente agrária, situada às margens dos rios. As sucessivas secas e a desertificação ameaçam a existência dessa região que outrora fora tão próspera. Os conflitos étnicos e religiosos, legados da colonização, contribuem para a depreciação da qualidade de vida de uma população que enfrenta doenças e fome. Infelizmente, o rico acervo histórico do Sahel não reflete seu futuro.


Texto revisado por Alessandra Akimoto e Rafaela Pansarin Soares. 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A história dos países nórdicos, terra dos vikings

  Por Derick Zheng Bandeiras dos países nórdicos Fonte: Johan Ramberg / Getty Images Introdução Os países nórdicos são compostos por cinco países: Suécia, Dinamarca, Islândia, Finlândia e Noruega. Há ainda os territórios autônomos, como a Groenlândia e as Ilhas Faroé sob soberania da Dinamarca e as Ilhas de Åland, da Finlândia. Esse grupo de países está localizado no ponto mais setentrional da Europa, perto do Ártico, e devido a isto, o clima é rigoroso e com neve frequente nas estações mais frias e ameno nas estações mais quentes. A geografia dos países nórdicos é também composta por regiões montanhosas, com bastante florestas de pinheiros, caracterizados pela alta resistência ao frio e fiordes, passagem natural hídrica para o mar entre montanhas. Esse terreno natural nórdico propiciou as famosas aventuras marítimas dos vikings à Europa ocidental em busca de tesouros e batalhas dignas. A era viking causou enorme temor nesse período da história europeia, devido aos relatos da bru...

Sistemas Eleitorais Brasileiros

Por Daniella Peixoto Pereira A maioria da população brasileira já está familiarizada com o termo sistema eleitoral, principalmente levando em consideração que muitas cidades do país já encerraram a sua fase de eleições municipais recentemente, enquanto outras aguardam pelo segundo. Entretanto, será que é claro o conceito concreto de “sistema eleitoral”? Quais formas existem? Como funciona esse sistema no Brasil? São essas as perguntas que o presente artigo busca responder. Primeiramente, cabe descrever o que são, efetivamente, sistemas eleitorais. Estes são um conjunto de procedimentos e técnicas legais cujo objetivo é o de organizar a representação popular durante o período de eleições e com base nas circunscrições delas. Tais processos convertem o voto em mandatos políticos, dando origem à democracia representativa de forma eficiente, popular, imparcial e segura, visando principalmente a legitimidade da(o) candidata(o) eleita(o) e a representatividade de todas as parcelas da populaçã...