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Sahel: Seus patrimônios mundiais e possíveis ameaças

Por Beatriz Pires Lourenço

Apesar da ampla extensão territorial da região e de suas diversas culturas e povos compreenderem uma infinidade de pontos turísticos, o presente artigo tem como enfoque os patrimônios da humanidade nomeados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, (UNESCO), no Sahel. Desse modo, cabe em primeiro lugar sobrelevar o papel histórico desses sítios, que por muito tempo serviram como pilares econômicos e políticos de seus respectivos locais. Além do mais, ainda hoje são pontos de conjunção entre fatores históricos, ecológicos (vista a biodiversidade regional) e ainda políticos, por conta de movimentos terroristas e secessionistas que os utilizam. 
Na Gâmbia, além do enfoque em parques nacionais, graças a abundante variedade natural, o turismo também é atraente em função da existência de dois sítios considerados patrimônios mundiais. O primeiro lugar é a Ilha James (Kunta Kinteh Island and Related Sites), historicamente importante por estar localizada no meio do Rio Gâmbia, que deságua no Oceano Atlântico, e por ser parte de uma das principais trajetórias de comércio na época pré-colonial, onde as cultuAh, que penaAhras européias e africanas teriam tido um primeiro contato. Além disso, tal trajeto foi muito utilizado para comercializar escravos e mais tarde transformou-se em uma rota que tomava medidas favoráveis à abolição principalmente após a escravidão ter se tornado ilegal na Inglaterra, evidenciado, por exemplo, pela construção da Bateria de Seis Armas em 1816 e do Forte Bullen em 1926 (UNESCO). 





Ilha James; Fonte: UNESCO


Outro ponto turístico que fica na divisa entre a Gâmbia e o Senegal, e que também foi nomeado pela
UNESCO em 2006, é o Círculo de Pedras da Senegâmbia, o qual abrange quatro grupos de círculos megalíticos, sendo que dois desses em Wassu e Kerbatch, na Gâmbia, e o restante em Wanar e Sine Ngayene no Senegal. Ao todo, o conjunto acumula mais de 1000 círculos, sendo que ao redor destes foram encontrados túmulos, materiais arqueológicos, sepulturas humanas e até mesmo cerâmica e instrumentos de ferro identificados como parte de um período entre o primeiro e o segundo milênio desta Era (UNESCO).
 
Círculo de Pedras da Senegâmbia; Fonte: UNESCO

Assim como a Gâmbia, Burkina Faso também conta com três pontos turísticos considerados  patrimônios mundiais, sendo esses o W-Arly-Pendjari Complex, as  Ruins of Loropéni e os Ancient Ferrous Metallurgy Sites of Burkina Faso. O primeiro é um complexo transnacional, visto que é compartilhado entre Burkina Faso, Níger e Benin, e se localiza na faixa de transição entre as savanas sudanesas e as florestas guineanas. Sua importância deriva do fato de ser um dos maiores complexos de preservação natural da África, compreendendo nove áreas de preservação, sendo essas o Complexo do Parque Regional W, o Parque Nacional Arly, o Parque Nacional Pendjari e as zonas de caça da Koakrana, Kourtiagou, Konkombri e Mékrou. (UNESCO

 
Complexo W-Arly-Pendjari; Fonte: UNESCO

Já as Ruínas de Loropéni se situam perto da fronteira da Costa do Marfim, Gana e Togo, sendo essa uma das fortalezas mais bem preservadas na região que era habitada pelo povo Lobi. Além disso, tais ruínas aludem ao tempo do comércio trans saariano, principalmente no que se refere ao ouro, visto que as rotas comerciais atravessavam a região do Sahel, e consequentemente a região onde as ruínas se encontram, e manifestaram uma significativa relevância, particularmente entre os séculos VII e XI quando houve uma expansão comercial evidenciando a grande importância histórica do local. (UNESCO; Ensinar História)


Ruínas de Loropéni; Fonte: UNESCO

O último ponto turístico, os Antigos Sítios Metalúrgicos de Burkina Faso, foi adicionado à lista de patrimônio mundial da UNESCO apenas em 2019. Tal local confirma que povos da antiguidade habitaram e se firmaram na região devido à existência de vestígios que comprovam a produção de ferro desde o século VIII A.C. Também apresenta o desenvolvimento da produção a começar de uma fase inicial até fases mais avançadas, as quais utilizavam fornos de fundição que estão relativamente preservados até hoje. (UNESCO)


Antigos Sítios Metalúrgicos de Burkina Faso; Fonte: UNESCO

Além dos cinco pontos turísticos destacados acima, o Sahel possui mais de 30 classificados como parte da herança mundial, sendo a Etiópia, o Senegal e o Mali os países que alojam o maior número de locais componentes desse conjunto. Entretanto, 5 desse total já foram adicionados à lista de ameaça à herança mundial, a qual inclui o Parque Nacional de Niokolo-Koba no Senegal, as Cidades Antigas de Djenné, a Tumba de Askia e o centro espiritual Timbuktu no Mali, e as Reservas Naturais de Air e Ténéré no Níger
O Parque Nacional no Senegal, por exemplo, apesar de ser uma área de preservação natural, acabou entrando na lista de sítios ameaçados devido à caça clandestina de elefantes. Já no Mali, no caso das Cidades Antigas, apesar de grande parte estar preservada, a lixiviação, erosão, ravina, assim como a modificação e modernização da arquitetura e a urbanização descontrolada corroboram para o seu status vulnerável. No que se refere a Tumba e a Timbuktu, o Comitê do Patrimônio Mundial enfatizou a importância acerca de sua preservação, e a partir disso, houve uma movimentação que acarretou no envio de autoridades para a garantia deste objetivo. Por fim, com relação às Reservas Naturais no Níger, sua fragilidade decorre da instabilidade política e dissensão entre as populações presentes na região (UNESCO). 
Em vista disso, observa-se que apesar da região apresentar um grande e diverso potencial turístico, visto que apresenta desde pontos relacionados à história até à natureza, alguns desafios, como a caça ou a gestão infrutífera da política, ainda impedem que o mesmo seja completamente desenvolvido e praticado pelos respectivos países. Desse modo, além do empenho da UNESCO, que busca preservar esses locais, seria necessário um esforço político mais engajado para se alcançar uma estabilidade efetiva, garantindo assim o incentivo e a disseminação do turismo nesses territórios. 

Texto revisado por Daniella Peixoto Pereira e Nicholas Torsani

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