Por Renato Raskin
A B3 – Brasil Bolsa Balcão – foi formada em 2017, com a junção da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (CETIP). A empresa é hoje a única responsável pelo mercado de ações de companhias de capital aberto no Brasil, além de derivativos, commodities e títulos de dívida públicos e privados, sendo portanto, um monopólio no país. Porém, apesar da magnitude da bolsa, o mercado financeiro brasileiro ainda tem muito a se desenvolver em relação a outros países, devido à quantidade relativamente baixa de investidores aqui presentes.
Segundo o seu próprio site, a B3 ultrapassou a marca de 2,6 milhões de CPFs de pessoas físicas cadastradas que possuam ações ou ativos semelhantes em junho deste ano, um recorde histórico para a companhia. Mesmo assim, isso ainda representa pouco mais de 1% da população brasileira, o que é consideravelmente baixo quando comparado a países como os EUA, onde mais da metade da população investe, direta ou indiretamente, no mercado acionário (InfoMoney, 2020).
Apesar da crise econômica e social que se passa no Brasil e no mundo, o número de CPFs na bolsa segue subindo de forma bastante acentuada, tendo mais do que triplicado em relação ao ano de 2018. Vale ressaltar que o critério leva em conta o CPF cadastrado em cada corretora, podendo contabilizar duas vezes o mesmo investidor caso tenha aplicações em duas contas distintas. Entretanto, isso não altera o fato de que o brasileiro está adentrando em massa o mercado de ações.
Fonte: B3
Pode-se listar duas principais razões para a entrada crescente e vertiginosa de pessoas físicas na bolsa de valores. A primeira delas é a acentuada queda nas taxas de juros, que chegou a patamares historicamente baixos para o Brasil e acelerou a migração da renda fixa para a renda variável, principalmente entre investidores mais velhos, com o foco no longo prazo. Nos Estados Unidos, por exemplo, é muito comum ver fundos de pensão que investem em ações ao invés de títulos. É cada vez mais comentado o fato de que a poupança, o CDB do banco, e a renda fixa em geral, não mais remuneram o dinheiro do investidor adequadamente, o qual acaba preferindo arriscar mais para conseguir um retorno melhor no mercado acionário.
O segundo motivo é o grande movimento, impulsionado pelas redes sociais, para espalhar a educação financeira pelo país. O povo brasileiro, que sempre teve pouca ou nenhuma instrução sobre o que fazer com suas economias, não tem o hábito de poupar, e quando tem, aplica na poupança ou em investimentos similarmente ruins. A bolsa de valores sempre foi vista como um lugar extremamente arriscado para se investir, além de ser supostamente limitada aos grandes detentores de capital.
O gráfico acima indica um aumento considerável de pequenos investidores na B3. Fonte: B3
Esse cenário, entretanto, vem mudando consideravelmente nos últimos anos, em parte graças ao aumento do acesso à educação financeira pela internet. Há canais no YouTube, como O Primo Rico, que possuem milhões de seguidores e crescem de forma exponencial, consolidando esse novo nicho do entretenimento nacional. Influenciadores digitais perceberam a falta de conhecimento sobre investimentos entre a população, mesmo sendo este um tema de grande interesse público e muito fácil de ser ensinado.
A explosão de canais nas mídias sociais que falam sobre educação financeira e bolsa de valores é um sinal de que grande parte dos novos investidores é formada por pessoas mais novas, com maior acesso à tecnologia. Os velhos mitos sobre o assunto são, aos poucos, desmascarados na internet, ao passo que novas aplicações no mercado de capitais são feitas em maior quantidade e com quantias menores de dinheiro, após os jovens entenderem a simplicidade do mercado e que os riscos não são tão elevados quanto lhes era dito.
Vídeo em que Thiago Nigro (O Primo Rico) fala sobre investimentos com Luiz Barsi, o maior investidor pessoa física do Brasil. Diferentemente de Warren Buffett, nos EUA, o bilionário era muito pouco conhecido no país antes das redes sociais.
Pode-se dizer que o mercado de ações vem se tornando, gradualmente, mais acessível e democrático no país. Um jovem de classe média que, há alguns anos, não teria qualquer conhecimento sobre a bolsa de valores, hoje pode adquirir o conhecimento necessário, gratuitamente e sem sair de casa, para realizar investimentos que outrora eram feitos apenas por investidores institucionais, estrangeiros e membros de classes mais altas da sociedade. Substancialmente, qualquer pessoa pode ganhar dinheiro comprando ações de uma companhia bem sucedida através da bolsa. Hoje em dia, o morador de uma comunidade carente pode tornar-se sócio do Itaú – o maior banco da América Latina – logo após assistir alguns vídeos no YouTube e uma criar conta em uma corretora. (Época Negócios, 2019).
O aumento na quantidade de investidores jovens torna-se cada vez mais evidente. Fonte: B3
É interessante notar que o movimento de migração dos investidores para a renda variável não foi interrompido pelo Coronavírus e sua consequente crise econômica. Pelo contrário, o número de CPFs na bolsa aumentou ainda mais durante a pandemia. A redução brusca nas taxas de juros e o maior conhecimento generalizado sobre o mercado pela população, aliados à queda acentuada nas ações – causada, principalmente, pela saída de investidores estrangeiros e institucionais do mercado – aparentam ser os principais motivos para esse fenômeno.
Texto revisado por Nicholas Torsani
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