Pular para o conteúdo principal

O mentiroso

 Um artigo de opinião por Vítor Rocha


Até alguns anos atrás, figuras como Bolsonaro e Olavo de Carvalho despontavam na mídia como os maiores representantes da direita brasileira. “Liberal na economia e conservador nos costumes” era o grande chavão da extrema direita que ascendia no Brasil. O momento era eufórico. Pela primeira vez em 14 anos tiramos o PT do poder, partido cuja reputação caía exponencialmente desde a péssima condução econômica de Dilma Rousseff e a posterior prisão de Lula. Me lembro da alegria de ter votado em Bolsonaro. Infelizmente, a alegria se transformou em profunda decepção.

No primeiro semestre de Bolsonaro como presidente as polêmicas já se acumulavam e os resultados eram insuficientes. Desde elogios a um ditador e pedófilo paraguaio, até insultos a manifestações legítimas, como os protestos contra o corte na educação, Bolsonaro fez de tudo para causar turbulências políticas, desestabilizando o país e atrasando as reformas. O início era apenas o vislumbre do que estava por vir: um governo sem qualquer critério de racionalidade. Nesse sentido, a condução da pandemia não só mostrou o caráter irracional do governo, mas também a falta de compromisso de Bolsonaro com suas próprias promessas eleitorais.

Em primeiro lugar, é fato que o tal “critério técnico” de Bolsonaro já se mostrava fraco desde a vergonhosa indicação de seu filho, Eduardo Bolsonaro, para a embaixada dos Estados Unidos. A demissão de Mandetta apenas comprovou a fala mentirosa do presidente de que as decisões técnicas dos ministérios seriam respeitadas. Somado a isso, a saída de Moro como resultado da tentativa de Bolsonaro em blindar os seus filhos de investigações conduzidas pelo Ministério Público do Rio Janeiro, desmoralizou por completo a chamada “nova política” que seria instaurada. As incontáveis declarações irresponsáveis do presidente durante a pandemia o colocam como o principal incumbido pelas 100 mil mortes atingidas até o momento.

Posto isso, é de se surpreender que Bolsonaro tenha utilizado o instrumento pelo qual ele mais criticou no período eleitoral: o da divisão. O argumento de que o PT dividia as pessoas entre pobres e ricos, negros e brancos, entre outros, foi usado de maneira incessante pelo “capitão”. No entanto, as suas falas e atitudes desde o início da presidência mostram que, ao lado do PT, ambos constituem faces da mesma moeda. O presidente precisa dividir mesmo que seja em meio à maior crise da história de nosso país. Nesse sentido, a lógica de suas declarações têm sempre como base a existência de um inimigo que quer lhe derrubar, podendo ser tanto da esquerda como da direita. O resultado todos nós sabemos: milhões de brasileiros arrependidos e desesperançosos quanto ao futuro do país.


Texto revisado por Nicholas Torsani


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A região do Sahel e sua importância histórica

  Por Derick Zheng A região do Sahel, cujo significado literal do árabe significa “costa”, é localizada entre o vasto deserto do Saara ao norte e as savanas africanas ao sul, e compreende atualmente partes de seis países: Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger e Chade, todos ex-colônias francesas. Sua geografia é conhecida pelo clima quente e de pouca precipitação volumétrica, característicos de uma região semiárida. Por ser uma faixa de transição, a região protege as savanas dos ventos secos carregados de areia do Saara, devido à sua biodiversidade, por isso, o Sahel é de ampla importância para os países subsaarianos, pois sem esse escudo natural, certamente o resto do continente africano seria mais uma extensão do maior deserto do mundo. No entanto, a localidade está ameaçada de se perder por esse mesmo fenômeno, cujos efeitos agravam gradualmente o processo de desertificação do Sahel e põe em risco milhões de pessoas que ali vivem e dependem das colheitas. Historicam...

A história dos países nórdicos, terra dos vikings

  Por Derick Zheng Bandeiras dos países nórdicos Fonte: Johan Ramberg / Getty Images Introdução Os países nórdicos são compostos por cinco países: Suécia, Dinamarca, Islândia, Finlândia e Noruega. Há ainda os territórios autônomos, como a Groenlândia e as Ilhas Faroé sob soberania da Dinamarca e as Ilhas de Åland, da Finlândia. Esse grupo de países está localizado no ponto mais setentrional da Europa, perto do Ártico, e devido a isto, o clima é rigoroso e com neve frequente nas estações mais frias e ameno nas estações mais quentes. A geografia dos países nórdicos é também composta por regiões montanhosas, com bastante florestas de pinheiros, caracterizados pela alta resistência ao frio e fiordes, passagem natural hídrica para o mar entre montanhas. Esse terreno natural nórdico propiciou as famosas aventuras marítimas dos vikings à Europa ocidental em busca de tesouros e batalhas dignas. A era viking causou enorme temor nesse período da história europeia, devido aos relatos da bru...

Sistemas Eleitorais Brasileiros

Por Daniella Peixoto Pereira A maioria da população brasileira já está familiarizada com o termo sistema eleitoral, principalmente levando em consideração que muitas cidades do país já encerraram a sua fase de eleições municipais recentemente, enquanto outras aguardam pelo segundo. Entretanto, será que é claro o conceito concreto de “sistema eleitoral”? Quais formas existem? Como funciona esse sistema no Brasil? São essas as perguntas que o presente artigo busca responder. Primeiramente, cabe descrever o que são, efetivamente, sistemas eleitorais. Estes são um conjunto de procedimentos e técnicas legais cujo objetivo é o de organizar a representação popular durante o período de eleições e com base nas circunscrições delas. Tais processos convertem o voto em mandatos políticos, dando origem à democracia representativa de forma eficiente, popular, imparcial e segura, visando principalmente a legitimidade da(o) candidata(o) eleita(o) e a representatividade de todas as parcelas da populaçã...