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Olhares externos: a má inserção do turismo saheliano

 Por Beatriz Pires Lourenço


Fonte: Revista Caras  População de Tuvalu pede retorno de príncipe <strong>William</strong> e  <strong>Kate Middleton</strong> à ilha | Caras


Como abordado no artigo anterior, já é de conhecimento geral a diversidade cultural, riqueza histórica e o potencial turístico da região do Sahel, pontos que, normalmente, são atrativos e incentivam tal setor. Apesar disso, seus países, assim como a maioria dos da África Subsaariana, não são bem inseridos no sistema internacional. Assim como no âmbito econômico, social, e político, o turismo também se encontra em uma posição desvalorizada frente à outros destinos que são compreendidos como melhores opções. 

Ao analisar o barômetro de turismo mundial de 2019, elaborado pela Organização do Turismo Mundial das Nações Unidas (UNWTO em inglês), torna-se evidente a afirmação acima, uma vez que o turismo do continente africano fica a frente apenas do Oriente Médio. Isso decorre de diversos fatores como a desvalorização da cultura regional, a instabilidade política, a existência de conflito étnicos e religiosos, a falta de incentivo, entre outros. 

A desvalorização da região (e desse setor de serviços) pode ser observada a partir da existência de um turismo predatório, o qual cria condições para que, por exemplo, uma  minoritária elite européia utilize dessa brecha para caçar animais nativos, desse modo reiterando a posição subordinada desses países no Sistema Internacional. Além disso, por se tratarem de países subdesenvolvidos, problemas relacionados à ausência de políticas públicas nacionais eficientes, como a inexistência de investimento em infraestrutura em saúde pública, tornam-se empecilhos aos turistas, já que resultam na falta de planejamento urbano e propiciam o contágio de doenças. Portanto, esses problemas tornam o lugar perigoso e impróprio para o turismo.

Além da ineficiente gestão pública, lugares como o Níger são prejudicados com a existência de grupos terroristas. Nesse caso, quando rebeldes tuaregues que lutavam pela independência de Mali foram sequestrados pela Al Qaeda a partir de 2012, a violência tornou-se progressivamente significativa, afetando, inclusive, os países vizinhos. Em vista disso, em 2020, seis franceses e dois nigerianos acabaram falecendo devido a um atentado organizado, provavelmente, por um grupo jihadista. Tal acontecimento ocasionou uma comoção internacional, mas, ao mesmo tempo, induziu o governo francês a emitir um aviso desencorajando os cidadãos a viajarem ao Níger. Com isso, o modo  como os conflitos e a instabilidade política impactam o setor turístico são evidenciados. 

Com o advento da pandemia, as economias de diversos países do Sahel sofreram com a diminuição da participação do montante antes obtido pelo turismo que, por mais que se insiram no Sistema Internacional de maneira parcial e periférica, ainda apresentam alguma relevância. Exemplo disso são o Mali, Níger, Burkina Faso e Chade, que além de tudo, são os países diretamente afetados pelos conflitos religiosos e étnicos.

Dessa forma, a relativa desvalorização e má inserção do turismo saheliano no Sistema Internacional, advém de diversos fatores tão complexos que chegam a impactar a própria dinâmica e geopolítica regional. A partir desses eventos desestabilizadores, o turismo, que é uma força econômica de grande magnitude e que atua como uma das principais propagandas de um país, acaba sendo desestimulado e reiterando a violência na região, visto que os olhares externos e os capitais atraídos atuariam na construção de mecanismos estabilizadores nacionalmente.


Texto revisado por Alessandra Akimoto


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