Por Tania Aparecida Peixoto
O homem, desde a sua infância como espécie, viveu combatendo o homem. Lutou contra seu próximo para assegurar abrigo e alimentação, lutou pelo seu par sexual, pela defesa de seu clã e pelo aumento de poder e influência sobre outros. O perdedor acaba sendo um fracassado, um desqualificado, alguém cujo volume de agressão foi superado por outro. Por isso, restam duas possibilidades: ou se redime de seu fracasso ou volta seu potencial agressivo contra si mesmo. Entretanto, essa questão não pode ser resolvida sem que se considere o papel que a sociedade e o grupo social desempenham nisso, motivando ou não o indivíduo a estabelecer laços de convivência e a engajar-se em projetos coletivos.
Além disso, a compreensão que a sociedade atribui à vida e à morte e, por consequência, ao suicídio, varia de cultura para cultura. Na Grécia, um indivíduo não podia suicidar-se sem prévio consenso da comunidade, pois ele não tinha o poder de decisão sobre sua própria vida. Aquele inclinado a cometer suicídio deveria expor às autoridades da pólis as razões que o levaram a crer que apenas a morte poderia constituir um alívio para seus tormentos. Se a pólis achasse seus argumentos consistentes, outorgava a ele a permissão para se matar e, muitas vezes, fornecia a arma ou o meio para seu próprio extermínio. O indivíduo que cometesse suicídio sem autorização ou conhecimento do Estado era considerado um transgressor. Era um atentado contra a estrutura da comunidade.
Já em certas sociedades orientais, o suicídio era considerado uma alternativa de solução para determinada circunstância da vida. Os samurais, no Japão, cometiam suicídios em grupo diante de derrotas eminentes. O Haraquiri (ritual Japonês de suicídio) era praticado como um tipo de protesto.
De acordo com um estudo da Organização Mundiail dae Saúde (OMS), pelo menos 1 pessoa se suicida no mundo a cada 40 segundos. O suicídio tornou-se uma verdadeira pandemia, sendo uma preocupação constante para vários países ao redor do mundo. Os maiores índices costumam ser registrados em nações pobres, onde os habitantes sofrem com problemas socioeconômicos.
Atualmente, o país com o maior número de suicídios por habitante é a Guiana - vizinha dos estados brasileiros do Pará e Roraima, devido a pobreza intensa, declínio na qualidade do setor público de saúde e abuso de álcool. São 4420 mortes a cada cem mil habitantes, medida padrão adotada pela OMS para fazer a medição. A Guiana vem seguida da Coreia do Norte e da Coréia do Sul.
Os métodos de suicídios escolhidos pelos homens são mais letais: eles são mais propensos a utilizar enforcamento, Okarmas de fogo, saltar de lugares altos ou afogamentos. As mulheres recorrem à overdose de drogas, ingerem venenos ou cortam os pulsos. Dados da OMS informam que pessoas em depressão, principalmente com Transtornos Bipolares, são as que mais cometem suicídio.
Seja como for, o suicídio constitui a expressão final de um fracasso social, um ato de preservação da sociedade contra o indivíduo: o indivíduo, matando-se, “assume” seu fracasso e preserva a sociedade do “perigo” de fazer a crítica sobre seus costumes e valores. Como no exemplo da Grécia Antiga: talvez a sociedade o tenha autorizado o suicídio para não ter que questionar esses valores.
Mas até que ponto o ato do suicídio também não nos alivia do “problema” de ter que reconsiderar a estrutura da sociedade que aceitamos e da qual, portanto, somos ou nos tornamos cúmplices?
As pessoas não se matam com a intenção de tirar a vida, e sim de acabar com a dor, mas isso não é a solução. Na visão da psicologia, a solução é buscar a ajuda de um profissional e, na ausência de um, busque um amigo ou um parente. Não sofra sozinho, divida essa dor.
Texto revisado por Rafaela Pansarin e Alessandra Akimoto
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