Por Gabriela Schneider Barreto
O colapso e a constante situação de crise que o sistema capitalista vem enfrentando atua como norte para o fortalecimento de um anseio por um modelo que supra as faltas e os excessos de cunho negativo originados pelo vigente sistema . Ao mesmo passo em que o neoliberalismo acumula inúmeros admiradores, a predileção por uma política socioeconômica em que o Estado se faça ativo e presente nas relações sociais e que funcione como uma ponte assecuratória entre indivíduos e seus respectivos bens e direitos – como a educação, saúde e segurança – é notória em todo o globo. Essa predileção se dá em razão dos referidos efeitos negativos que o Capitalismo ocasiona, bem como a ineficácia de proteção ao coletivo com o fim de cumprir o que ordenamentos jurídicos se propõem a cumprir; e, também, a ausência de uma igualdade material – isto é, concreta, e não apenas prevista no papel. Dá-se destaque para aqueles que encaram a adoção do Socialismo de Marx e Engels, o qual fora difundido fortemente pelo globo e que se fortaleceu, especialmente, na extinta URSS, como a alternativa ideal proposta para solucionar as crises e para concretizar a tão esperada sociedade em que reina a igualdade.
A conclamação “Trabalhadores do mundo, uni-vos!” do Manifesto Comunista de Marx e Engels ainda se propaga pela sociedade como um todo, seja por estudiosos ou pela militância. Assim, é revelado que a Revolução e os seus reflexos ainda se perpetuam nos corações de muitos. Ainda que os frutos da Revolução de 1917 tenham causado um enorme impacto para a promoção de igualdade, o Socialismo da URSS, especialmente o de Stalin, foi fundado em controvérsias e o causador de inúmeras mazelas . A Era Stalin provocou a morte de inúmeros prisioneiros e de indivíduos sujeitos aos campos de trabalho forçado – os gulags, que tinham como finalidade punir aqueles que se opunham ao regime. Os números estatísticos tomam para contabilização do estrago diversos métodos, o que inviabiliza um consenso acadêmico de uma estimativa concreta de mortos pelo regime. No entanto, é certo que o governo de Stalin levou à perda de milhões de vidas dentro de seu governo. Em contrapartida a esse fato, desconsiderada a escala dos efeitos negativos, a BBC News levantou dados de pesquisa realizada no ano de 2018, a qual apura que 51% dos russos cultivam certo gosto por Josef Stalin, e, ainda, 70% acreditam que o seu desempenho e papel exercidos surtiram um impacto positivo para a trajetória histórica da Rússia.
Embora tenha perdurado por anos, o regime Socialista e a URSS deram-se por encerrados no ano de 1991, em razões, principalmente, econômicas. Enquanto o sistema capitalista reproduzia resultados positivos derivados da Era de Ouro Capitalista, que, ainda que tenham ocorrido de forma abrupta entre os anos 1945-1970, alastraram-se por mais alguns anos (Hobsbawm, E., A era dos extremos, 2ª Edição), o Socialismo se via encurralado, dada a impossibilidade de acompanhar as mudanças econômicas que ocorriam em escala global nos países capitalistas (em destaque, as grandes potências), em especial, o aumento do preço do petróleo, que constitui, ainda hoje, boa parte da fonte de recursos da economia russa. A impossibilidade de sustentar o sistema levou à eclosão do fim do regime socialista e, assim, implantou-se o sistema capitalista.
Ao mesmo passo que o capitalismo gera a produção de bons resultados econômicos para uma economia e para a conjuntura social, o mesmo sistema corrobora com a formação da miséria e desigualdade em larga escala em diversas nações. Um exemplo que externaliza esse fato é a própria Rússia. De acordo com os dados fornecidos pelo Statista Research Departament, no primeiro bimestre do ano de 2020, 18,6 milhões (aproximadamente 12% da população) de russos vivem abaixo da linha da pobreza. Além disso, a Moscow Times estima que 83% da riqueza da Rússia pertence a apenas 10% da população. Recentemente, Putin prorrogou o ano de 2024 como alcance de meta para erradicação à metade da pobreza para o ano de 2030, ainda que se trate de uma questão de urgência.
Fonte: Russia Beyond
Para Karl Marx, a implantação do socialismo somente seria viável no cenário em que uma sociedade possuísse estruturas monetárias e de industrialização para que seja instaurada, sem grandes tropeços, uma revolução e, por sequência, um novo sistema socioeconômico, o que se deu por evidente no fim da Rússia socialista em decorrência das crises econômicas as quais a nação se viu impossibilitada de acompanhar, que acarretaram o fim do regime. O “modelo ideal” estaria ainda muito distante de se concretizar, afinal, os sinais de ruptura e de crise que o próprio Capitalismo traduz, revelam uma incongruência com o que Marx se propunha. A própria instabilidade e a produção de crises que esse sistema socioeconômico produz, levam à incapacidade de formação de um estágio em que seja propícia à instalação do modelo tão almejado por muitos.
Texto revisado por Alessandra Akimoto.
Comentários
Postar um comentário