Por Derick Zheng
Extensão atual da Rússia moderna
Fonte: Free World Maps
A história da Rússia, o maior país do mundo em extensão territorial, passa por diversos períodos de grande significância, desde a criação de um pequeno Estado eslavo dentro do território russo à ascensão da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, cujo poder de influência dividiu o mundo ideologicamente com os Estados Unidos da América, durante a segunda metade do século XX.
Por ser localizado mais ao leste da Europa, especificamente na Eurásia (a junção dos continentes da Europa e da Ásia), a Rússia é composta majoritariamente pela etnia eslava, que possui presença predominante no leste europeu, no entanto, devido à dimensão do território russo, há vários grupos étnicos presentes. O clima é considerado em boa parte do país de frio extremo (abaixo de 0ºC) majoritariamente e com temperaturas amenas (em torno de 20ºC, raramente acima de 30ºC) nas estações mais quentes, visto que se localiza próximo à região do Ártico. Devido à localidade polar, o solo no norte do país é permanentemente congelado.
A história da Rússia começa com o primeiro Estado eslavo, conhecido como Kievan Rus, formado por volta do ano de 882. Este Estado foi fundado pelo viking Oleg, governante da cidade de Novgorod, uma cidade que prosperava devido à sua localização estratégica, que servia como um entreposto em uma das rotas comerciais da região, muito utilizada pelos vikings. Oleg embarcou em expedições militares e conquistou importantes cidade próximas à Novgorod, tais como Kiev, a qual seria a nova capital de Kievan Rus, por estar localizada às margens do rio Dniepre. Ainda nas expedições militares, o viking conseguiu unir as tribos eslavas e finlandesas e os integraram como habitantes do seu Estado.
Extensão do Estado de Kievan Rus
Fonte: Encyclopedia Britannica
O Estado de Kievan Rus durou até a primeira metade do século XIII, quando foi conquistado pelo maior império que o mundo já havia visto, o Império Mongol. O domínio mongol na Rússia durou até o fim do século XV, quando Ivã III, governante do Principado de Moscou, unificou os territórios russos e expulsou os invasores mongóis, consolidando uma forte monarquia em seu governo. Durante seu reinado, Moscou, que viria a ser futura capital da União Soviética e da Rússia moderna, passou por inúmeras reformas arquitetônicas e atraiu diversos intelectuais, se tornando um importante centro cultural e político.
Por volta de 1547 se estabelece o Czarado da Rússia, fundado por Ivã, o Terrível, neto de Ivã III, se tornando o primeiro governante da Rússia com o título de Czar (imperador). Já em 1613, Mikhail Romanov, com apenas 16 anos, foi eleito por uma assembleia, Czar, dando início à uma dinastia que duraria quase três séculos. Em seu reinado, o cenário do Czarado enfrentava uma situação instável, com a alta da criminalidade, desordem, corrupção, invasões estrangeiras e fome. Ainda assim, assinou termos de paz com as nações que o Czarado estava em guerra, como a Suécia e a Polônia, e se aproximou diplomaticamente do ocidente, reprimiu rebeliões internas e restabeleceu a ordem.
Extensão máxima do Império Russo, que ainda controlava o Alasca, no continente americano
Fonte: Maps-Russia
Em 1682, Pedro I, que mais tarde viria a ser conhecido como Pedro, o Grande, se torna Czar do Czarado da Rússia. Pedro percebeu, por meio de várias passagens pelos países europeus, que a Rússia estava atrasada tecnologicamente e socialmente quanto ao ocidente e durante seu governo, modernizou as forças militares e construiu uma marinha poderosa. Organizou inúmeras reformas políticas e sociais, incentivando até mesmo o uso de vestimentas ocidentais como forma de compensar a obsolescência cultural do povo russo. Ainda, provocou uma guerra contra um antigo inimigo da Rússia com a ajuda de aliados, a Suécia, com o intuito de restaurar antigos territórios e obter uma saída marítima, visto que o mar ao norte do país passava boa parte do ano congelado, inviabilizando o fluxo de navios. O conflito bélico, que ficou conhecido como a Grande Guerra do Norte, resultou no êxito da Rússia e seus aliados, com ganhos de territórios aos russos, que deram acesso ao Mar Báltico e elevaram a posição do Estado russo como potência. No entanto, o evento mais importante oriundo da guerra foi a fundação do Império Russo, sucessor do Czarado da Rússia. A capital do novo Império Russo, a cidade de São Petersburgo, foi fundada durante o início da Grande Guerra do Norte e sua localização permitiu que se obtesse vários ganhos militares contra territórios suecos.
Em 1762, Catarina, a Grande, ascende como imperatriz do Império Russo. Durante seu reinado, que durou mais de três décadas, o império passou por um período de expansão territorial, entrando em guerra contra os turcos pelo controle do Mar Negro, a anexação da Crimeia e a expansão para além dos Montes Urais (cordilheira de montanhas que separam a Rússia ocidental da parte oriental) e passou por um período de prosperidade, com destaque às artes e a literatura, que resultou na construção do Hermitage, um dos maiores museus de artes do mundo.
Em 1855, Alexandre II foi coroado Czar do Império Russo. Entre os destaques do seu reinado, promulgou a reforma emancipadora, que baniu a servidão civil no império, um sistema que datava dos feudos medievais. A medida beneficiou milhões de camponeses russos, que também lhes foram permitidos a aquisição de terras, apesar do fato da concentração de terras pela aristocracia russa inibisse que todos tivessem acesso. Outras reformas incluíam o alistamento obrigatório e um sistema de auto-governança local.
Em 1894, Nicolau II se torna o novo Czar do Império Russo. Durante uma festa para celebrar sua coroação em 1896, milhares de pessoas foram fatalmente pisoteadas em um desespero popular para obter alimentos, no evento que ficou conhecido como Tragédia de Khodynka. Esse início de reinado seria um mau presságio do futuro do Czar. Durante seu governo, o povo russo passava por uma situação de fome e miséria generalizada, o exército estava descontente com a derrota na guerra contra os japoneses em 1905, o desenrolar dos acontecimentos do fatídico evento conhecido como domingo sangrento, que resultou no massacre de manifestantes operários que reivindicavam melhores condições de trabalho e a reputação internacional do Império Russo como potência foi abalada. Para agravar a situação, o país se envolveu no maior conflito armado que a humanidade havia visto, a Primeira Guerra Mundial.
Era evidente que o Império Russo estava despreparado para lidar com o conflito. As sucessivas derrotas militares confirmaram a situação precária do país e o sentimento de revolta entre a população russa somente aumentava, afinal, o país sofria com a escassez de comida, enfrentava altos níveis de analfabetismo e a população masculina estava sendo enviada para lutar e morrer em vão.
Desse modo, haja vista o descontentamento da população, em fevereiro de 1917 iniciou-se a Revolução Russa, com o pretexto de enfrentar os problemas do país, que não somente não foram resolvidos pelo Czar Nicolau II, como foram agravados com a entrada do país na Primeira Guerra. O levante, liderado pelo socialista moderado Kerensky, depôs o governo monárquico e forçou a abdicação do Czar, encerrando definitivamente a dinastia Romanov. A partir disso, o país instauraria um regime democrático aos moldes do ocidente, com a formação de um governo provisório.
No entanto, o governo provisório, por insistência dos aliados russos na Primeira Guerra Mundial, manteve a Rússia no conflito. A segunda fase da Revolução Russa se iniciou em outubro de 1917, sob liderança de Lênin, da parte socialista mais radical, conhecido como Bolchevique. Os Bolcheviques divulgavam seus esforços baseados nas teses de Lênin: pão (comida para os russos), terra (terras para os camponeses usufruírem) e paz (a saída da Rússia da guerra). A revolução de outubro obteve êxito com amplo apoio popular e Lênin ascendeu ao poder, dissolvendo o antigo Império Russo e fundando a República Soviética Russa (soviet em russo significa comitê).
A recém formada República Soviética Russa se retirou imediatamente do conflito para concentrar seus esforços no ambiente doméstico. O Tratado de Brest-Litovski, assinado em março de 1918, formalizou a saída definitiva da Rússia da guerra, com ampla concessão de territórios aos países das Potências Centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano).
Com o problema da guerra sanado, Lênin se dedicou para o cenário nacional. No entanto, as medidas adotadas pelo governo Bolchevique provocaram uma guerra civil na Rússia. De um lado, os Bolcheviques e seu exército vermelho, de outro, o exército branco, composto por militares leais ao Czar e apoiado por potências estrangeiras, que viam o avanço do socialismo como um mal a ser combatido. No desenrolar do conflito, a família Romanov, a qual pertencia o Czar, estava em exílio sob vigilância do governo russo. O exército vermelho, temendo que o exército branco pudesse resgatar a família real e restaurar a monarquia no país, executou todos os membros e empregados da família dos Romanov. A guerra civil russa terminou como resultado a vitória dos Bolcheviques e a consolidação do Estado soviético, que viria a renomear o país para União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, com a cidade de Moscou restaurado como capital do novo Estado.
Mapa da União Soviética, com os nomes das Repúblicas contidas
Fonte: Britannica
A estrutura política e econômica da União Soviética se baseava no controle estatal unipartidário sobre todos os meios de produção, modelo conhecido como planificação da economia. A iniciativa privada era quase inexistente, sendo dever do Estado soviético tomar iniciativas então para decidir o que produzir e quanto produzir. A União Soviética passava por um período de crise econômica, que vinha desde o czarismo e agravado com a Primeira Guerra Mundial e a guerra civil. Para resolver isso, Lênin implementou a Nova Política Econômica, um plano para recuperar a economia. A NEP, ironicamente, restaurava alguns métodos do sistema capitalista, como o direito à iniciativa privada nos setores de agricultura e indústria. Lênin justificou a NEP com a seguinte frase: “Um passo para trás para dar dois à frente”, ou seja, para concretizar o plano socialista, era necessário fazer usufruto de alguns dos meios capitalistas.
Em 1927, Josef Stalin assume o poder da União Soviética, iniciando o período conhecido como stalinismo. Reinando como ditador absoluto, sob seu governo, a União Soviética passou por um intenso processo de industrialização forçada e incremento da produção agrícola, nos chamados Planos Quinquenais (5 anos), que resultou, além de atingir os objetivos propostos, na morte de milhões de soviéticos, com destaque ao episódio conhecido como Holodomor, quando milhões de pessoas morreram de fome devido à coletivização forçada e a desorganização da produção agrícola, que causou desabastecimento de alimentos.
Como o Estado soviético possuía poder absoluto, houve dura repressão pelo regime, que era evidente com a criação dos campos de trabalhos forçados, conhecidos como gulags. Opositores e dissidentes do governo soviético eram presos e enviados aos gulags, onde as condições de trabalho e de vida eram as mais abomináveis possíveis e frequentemente, seus prisioneiros passavam os restos de suas vidas nessas prisões.
Em junho de 1941, a União Soviética passaria pelo período mais importante da sua história, o dever de defender a existência do Estado-nação. A Alemanha Nazista, que havia surgido em 1933, com a ascensão do ditador Adolf Hitler ao poder, iniciaria uma campanha de exterminação étnica e ideológica contra a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939. Tamanho era o ódio dos alemães contra os ideais soviéticos que eles capturaram inúmeras cidades soviéticas importantes, como Kiev e Smolensk, bem como organizaram massacres contra suas populações. Os horrores da guerra clamavam pelo bem maior da defesa da União Soviética contra os invasores alemães.
Com a ajuda dos aliados ocidentais, como o Reino Unido e os Estados Unidos da América, os soviéticos puderam impedir o avanço dos alemães em seu território e contra-atacaram, sob um alto custo de vidas humanas, até Berlim, capital do regime nazista, encerrando assim, a Segunda Guerra Mundial na Europa. As batalhas mais importantes do conflito e uma das mais trágicas da história se desenrolaram em solo soviético, como a Batalha de Moscou e a Batalha de Stalingrado, que foram decisivas para a reversão do resultado da guerra. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética seria o país com mais casualidades devido ao conflito, a maioria civis.
O período histórico que se seguiu após o fim da Segunda Guerra Mundial ficou conhecido como Guerra Fria, no qual a ascensão política e industrial da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas após o conflito causou enormes impactos no mundo e criou uma disputa ideológica com o capitalismo dos Estados Unidos da América. Durante a Guerra Fria, a União Soviética se tornou a maior detentora de armas nucleares do mundo, com os Estados Unidos em segundo lugar, porém ambos com igual capacidade destrutiva, visto que uma guerra nuclear no mundo seria a última guerra que a humanidade faria. Outro fato histórico creditado aos soviéticos foi o pioneirismo na corrida espacial, visto que conseguiram enviar à órbita pela primeira vez na história da humanidade um satélite artificial, o Sputnik, em 1957 e mais tarde, os primeiros seres vivos, como a cadela Laika no mesmo ano e o cosmonauta Yuri Gagarin em 1961, feitos ocorridos muitos anos antes da famosa viagem à lua dos americanos, em 1969.
No fim, na década de 90, a União Soviética foi dissolvida devido às crises econômicas e políticas internas e o modelo socialista de governo entrou em decadência. A dissolução da antiga União Soviética deu origem a diversos países existentes até os dias atuais. O herdeiro natural da maior parte dos territórios soviéticos foi a Federação Russa e constantemente esse país se faz presente nos assuntos internacionais, um legado da sua rica história.
Texto revisado por Nicholas Torsani
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