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Um político como qualquer outro

Fonte: Sérgio Lima

Por Luis Otávio Nascimento

Jair Bolsonaro está surfando na onda da sua crescente popularidade. A aprovação do seu governo está em 39%, a mais alta desde o início de 2019, próximo dos 40% do seu primeiro ano de mandato, e com a sua reprovação apresentando o menor índice desde o ano em que tomou posse. É no mínimo curioso notar o momento em que sua popularidade aumenta, assim como a forma pela qual ela sobe. 

Bolsonaro foi eleito defendendo algumas ideias bem claras, duas delas sendo a austeridade econômica e o fim do “toma lá dá cá”. A primeira defende menos gastos governamentais, enquanto a segunda seria uma dinâmica governista que repousa na troca de cargos políticos e favores com congressistas para uma maior capacidade de governar. No decorrer da pior pandemia a atingir o país em mais de 100 anos, a da COVID-19, Bolsonaro deu uma virada de 180º em alguns de seus ideais.

Outrora criticado, o “toma lá dá cá” passou a ser ferramenta de governo e serviu para ampliar a base governista no congresso. Com diversos cargos da máquina governamental federal sendo distribuídos para membros do centrão. Após seguidas derrotas, o medo de um impeachment passou a assombrar o planalto e investigações policiais cercaram a família Bolsonaro, o presidente passou a adotar uma política de aproximação com o centrão. Em grande medida pois esse bloco é o responsável por movimentar a agenda política no legislativo. Desse modo, o atual presidente se torna apenas mais um na história brasileira a adotar tal estratégia para governar.

O ápice dessa guinada se deu quando o planalto aventou a possibilidade de um integrante do centrão integrar a chapa de Bolsonaro na próxima eleição presidencial, no lugar do atual vice-presidente e, general da reserva, Hamilton Mourão, mirando a governabilidade e perpetuação no poder.

Em um momento no qual a economia precisou ser parcialmente paralisada no Brasil, o gasto governamental, já outrora importante, tem o seu papel exacerbado. Já em abril, o Auxílio Emergencial foi sancionado pelo governo, depois de ser discutido pelo legislativo. Tal benefício transfere R$ 600 por mês para aqueles que se enquadrarem nos requisitos definidos, e é voltado para aqueles que perderam seus empregos devido à pandemia do coronavírus e/ou são de baixa renda. Esse provento, inclusive, driblou o teste de gastos e contribuiu para um salto na dívida pública brasileira, que deve chegar a 101% do PIB em 2020. Esse benefício vai na contramão do corte de gastos defendido por Bolsonaro em 2018 e até hoje tutelado pelo Ministro da Economia Paulo Guedes.

Esse movimento de aprovação do auxílio emergencial, claro, contou com a articulação do centrão. Bolsonaro em um momento de extrema necessidade se viu compelido a agir conforme a banda toca. Com a economia paralisando, o seu governo não aguentaria por muito tempo no poder isoladamente como pretendia.

O chefe de governo brasileiro se tornou aquilo que mais criticava, um presidente que, para conseguir governar, distribui cargos, recria ministérios para aliados políticos comandarem, além de sobrepor o pragmatismo político sobre a ideologia. Bolsonaro aprendeu que, no Brasil, nenhum governo é capaz de governar sozinho e que para se manter no poder e conseguir exercer a sua administração, alguns favores são necessários.

O atual chefe do executivo federal é apenas mais um político que governa para se manter no poder. Ainda que criticável, não é exclusividade do presidente, esse fenômeno é visível em todas as instâncias de poder, seja na federal, estadual ou na municipal.

Pode-se dizer que, em momentos excepcionais, medidas excepcionais precisam ser tomadas. Bem, não é o caso de Bolsonaro, pelo menos não quando a política histórica nacional é posta em perspectiva e nota-se uma perpetuação de práticas já consagradas no cenário político brasileiro. O Bolsonaro pós-pandemia deve ser muito pouco parecido com o Bolsonaro da campanha de 2018, e muito mais alinhado com o atual presidente. Afinal de contas, as eleições de 2022 estão logo ali e é preciso pavimentar o caminho até elas.

Texto revisado por Alessandra Taiko K. Akimoto

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